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domingo, 27 de abril de 2008

Internet: fatos e boatos

Em setembro do ano passado li um artigo que me deixou preocupada.

Grosso modo, ele afirmava que a geração atual acredita mais em informações repassadas por mails ou lidas em blogs pessoais (especialmente de amigos) do que em sites institucionais e/ou mídia impressa corporativa. Pode ser interessante por um lado na medida em que não é porque um veículo de comunicação é institucional que ele é portador da verdade, mas é perigoso por outro lado na medida em que se acredita na informação porque foi repassada por um/a amigo, pondo-se de lado o espírito crítico e contribuindo para ampliar a crença e o aumento da disseminação de hoax. O último que vi circulando e repassado por vários amigos, inclusive professores foi um que dizia que o governo inglês, por pressão dos muçulmanos, havia eliminado do currículo da educação básica a temática do Holocausto.

Nem sempre temos temos para fazer uma pesquisa e checar se a informação que recebemos é verdadeira ou não, um bom conselho nesses casos é não ajudar a disseminar o que pode ser falso.

A geração de nossos alunos é uma geração que pela tecnologia disponível fala menos e escreve mais (mesmo que seja o internetês) via torpedo, msn, scrapbooks, comunidades virtuais e blogs.


A Internet é uma realidade para essa geração especialmente nas áreas urbanas e cada vez mais até mesmo nos pequenos municípios por meio dos telecentros ou das lanhouses.

Minha filha de 12 anos até desenhos aprende a fazer usando tutoriais disponíveis no youtube e domina muito mais o uso de softwares que eu. Os educadores pesquisadores já estão estudando mudanças cognitivas expressivas nessa geração da era da Internet.


Acredito que o mundo adulto, que como diz Hannah Arendt, é responsável (queira ou não) pela educação dos jovens, especialmente o mundo adulto da rede e, em especial, o da blogosfera contribuiria muito se moderasse o 'denuncismo', o linguajar virulento e muitas vezes estereotipado contra seus inimigos políticos e ideológicos, enfim, se criasse uma ética e uma etiqueta na rede que fosse capaz de servir como um modelo de comunicação de maior civilidade para a juventude. Queiramos ou não, muito de nós, especialmente os jornalistas e blogueiros mais atuantes, viraram referências e deveriam dobrar seus cuidados ao transmitir seus discursos.

A propósito, sobre essas problematizações, reproduzo um artigo de opinião do jornalista Luiz Carlos Azenha que, a meu ver, com o seu trabalho jornalístico vem contribuindo para manter um espírito crítico em relação à mídia corporativa e no mundo da blogosfera:

Internet: quando a crença se sobrepõe aos fatos
(27/04/2008- 12:48)

Luiz Carlos Azenha


aeroporto de Mariscal Estigarribia, Paraguai.


WASHINGTON - De acordo com o Washington Post deste domingo, o site Urban-Dicitionary.com acrescentou recentemente um verbete: "desinformação colateral." E explicou: "Quando alguém altera um artigo da Wikipedia para vencer um argumento específico, quem quer que tenha lido o artigo falsificado antes que o 'erro' tenha sido corrigido sofre de desinformação colateral."

A Wikipedia é a enciclopédia digital que qualquer internauta pode ajudar a escrever ou editar. De acordo com o jornal, quando um estudioso da Hoover Institution fez uma busca no Google sobre 100 temas da História dos Estados Unidos, os tópicos da Wikipedia apareceram em primeiro lugar 87 vezes. A confirmação de que existe uma geração de americanos que trocou a biblioteca pelas consultas na internet.

A reportagem vem acompanhada de uma tabela de fatos: a versão em inglês da Wikipedia tem 2.340.000 verbetes, contra 120.000 da Enciclopédia Britânica online. Pessoas que usaram a busca para resolver problemas relacionados ao governo: 57%. Pessoas que contataram o governo: 34%. Adultos que usam a Wikipedia como fonte regular de informação: 36%. Entrevistados que acreditam mais no conteúdo online do que em outras fontes: 13%. Número de vezes que o verbete "verdade" foi alterado na Wikipedia em uma semana: 11. Resultados da busca "HIV não causa AIDS" no Google: 16.000.

A reportagem do Washington Post fala do lançamento do livro "True Enough: Learning to Live in a Post-Fact Society", em que o autor diz que estamos vivendo o período da "ascendência cultural da crença sobre o fato."

O fato de que um texto esteja impresso no papel não faz dele fonte mais confiável, digo eu. Porém, é importante considerar que o processo de produção de informação foi acelerado pela internet. O copy and paste reina e a internet permite que um boato circule o mundo com uma rapidez inimaginável no século 20.

Hoje, intelectuais, escritores, historiadores e jornalistas de todas as cepas acreditam que existe, no Chaco paraguaio, uma base militar dos Estados Unidos, no aeroporto de Mariscal Estigarribia. Quem se baseia em consultas na internet pode obter, em inglês, espanhol e outros idiomas, mais do que duas fontes para sustentar esse "fato". Porém, como pude constatar pessoalmente, a pedido da revista Carta Capital, a base não existe, nem instalações capazes de receber milhares de soldados estadunidenses. Trata-se de um gigantesco aeroporto, sim, mas vazio. Podemos especular à vontade a respeito do futuro uso dele, mas o fato é que, atualmente, não abriga militares dos Estados Unidos.

Neste caso específico podemos dizer que a crença se sobrepôs aos fatos.


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